domingo, 24 de janeiro de 2010

Os Primórdios da Bossa Nova

O GRANDE ENCONTRO: JOÃO GILBERTO E ROBERTO MENESCAL



- Tem um violão aí? Eu sou o João Gilberto. Podíamos tocar alguma coisa.

Menescal, surpreso com "aquela figura esquisita", mandou-o entrar. 
Já ouvira falar num "baiano meio louco, genial, afinadíssimo," que às vezes aparecia no Plaza, na Rua Princesa Isabel, por volta de 1957. 
Carlos Lyra já conhecia "aquela figura". 

Ronaldo Bôscoli e Carlos Lyra



Mas voltemos ao apartamento do Menescal.
Casa cheia. Menescal levou o baiano para o quarto dos fundos. Curioso. Violão examinado e devidamente afinado, João começou a cantar "Hô–ba-la-la", de sua autoria. Uma espécie de beguine – musica caribenha já esquecida. Menescal não entendeu nada da letra. Mas quem se importava com letra? A voz do "cara" era um instrumento! Um trombone da melhor qualidade. E João Gilberto não parecia cantar. Dizia as letras, num sussurro, mal abrindo os lábios. E repetiu o estranhíssimo "Ho-ba-la-la" cinco ou seis vezes, cada uma de maneira diferente, mas com a mesma batida. A mesma bossa. Quase ninguém conhecia João Gilberto, no Rio, em 1957, principalmente os mais jovens. Quem ele era, o que fazia, como aprendera violão, como cantar daquele jeito diferente. Sabia-se, vagamente, que viera da Bahia pra cantar num conjunto, mas não se adaptara. E cantava esporadicamente, na noite do Rio. Fascinado, Menescal resolveu "mostrar sua descoberta" aos amigos.

E saiu com o baiano a tiracolo. Com violão e tudo. 
Começou pelo apartamento de Ronaldo Bôscoli, na rua Otaviano Hudson, onde João Gilberto cantou "Ho-ba-la-la" muitas vezes. 

E cantou outra canção muito estranha, chamada "Bim-Bom".

Nenhum comentário:

Postar um comentário