quinta-feira, 10 de junho de 2010
Korea (Ithamara Koorax/José Roberto Bertrami)
A alma brasileira
No fim de semana, fui ao show musical da cantora Ithamara Koorax, por sinal, um portento de intérprete. O canto de Ithamara é precedido de um texto, lido em off, dedicando o espetáculo "a todos os artistas que nunca aceitaram barreiras ou limites à sua arte". O show encerra uma bela exaltação aos artistas brasileiros que, por falta de estímulo doméstico, acabam tendo que se exilar, levando seu talento ao resto do mundo, que os acolhe com entusiasmo.
Quando terminou o maravilhoso desempenho da cantora - realmente, um fenômeno vocal - eu pensava na diferença de sorte entre o artista e o jogador de futebol. Quem é bom de bola e vai pro exterior é permanentemente louvado como legítimo representante da cultura popular brasileira.
Já o artista, pobre dele, é absolutamente esquecido; quando não é hostilizado, discriminado, tido como trânsfuga, apátrida.
Deslumbrado com o talento de Ithamara Koorax, eu a via no palco com o santo orgulho de sabê-la celebrada pela revista americana Down Beat como uma das quatro melhores cantoras de jazz do mundo, ao lado de Diana Krall, Cassandra Wilson e Dianne Reeves. De jazz, diz a conceituada publicação; de MPB há de dizer quem, como eu, ouviu Ithamara cantando Tom, os irmãos Valle, Jorge Benjor e tantos outros compositores da MPB. Emociona ouvir cantar Ithamara.
Se é verdade que cada música tem sua alma, essa admirável cantora tem o dom de criar uma voz que parece ter nascido com a alma da própria canção.
Nunca é demais repetir que os artistas que se apresentam no exterior não mostram apenas a beleza de sua arte pessoal. A imprensa especializada talvez ainda não tenha parado pra pensar que eles expressam, lá fora, em cenários distantes, a própria alma do povo brasileiro. São tão heróicos quanto os idolatrados craques do nosso futebol. Quando Ithamara canta é mais um gol do Brasil.
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