quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Reportagem sobre as origens da bossa nova


Anos 50 e as origens da bossa nova (Miriam Fávaro)

No início dos anos 50 o mundo vivia os efeitos do final da Segunda Guerra. A Europa devastada não era mais o centro do poder mundial. Em seu lugar emergiam duas novas superpotências: os Estados Unidos e a União Soviética, dividindo o mundo em dois blocos políticos, o capitalista e o socialista, respectivamente. Ao redor destes dois pólos, os países se alinhavam em busca da tão sonhada emancipação econômica, política, social e cultural. Os Estados Unidos, que tinham atingido um patamar incomparável em termos econômicos e tecnológicos depois do conflito, tornaram-se o modelo de sucesso a ser seguido pelo mundo Ocidental. A expansão econômica americana acelerou o processo de urbanização no país, fazendo surgir uma classe média que despertava para as maravilhas do consumo. Ao seu dispor esta nova camada social tinha agora uma infinidade de bens produzidos em série, como carros, eletrodomésticos, roupas, cosméticos, filmes, músicas etc., o que inaugurou a era da busca pela satisfação e pelo conforto pessoal como objetivo de vida.

Os jovens pertencentes a essa camada média, que até então não tinham independência econômica, finalmente ingressaram no mercado de trabalho, adquirindo o direito e o poder de consumir tanto produtos reais quanto simbólicos. Ganharam assim destaque e importância, tornando-se um significativo segmento a ser explorado pelo mercado de consumo, que passou a criar produtos específicos para ele. Nascia assim uma cultura jovem que seria exportada pelos Estados Unidos para todo o mundo, através dos meios de comunicação de uma nascente indústria cultural, como o rádio, os jornais, as revistas em quadrinhos, o cinema e a TV. O sociólogo e filósofo francês Edgar Morin define esse processo como parte do estabelecimento da cultura de massas na sociedade moderna, ligado ao tempo livre e ao lazer, definindo-o como promoção dos valores juvenis em que heróis imaginários difundidos pela cultura de massas tomam lugar dos ancestrais e da família na dinâmica de identificações.




No Brasil, quando Juscelino Kubitscheck assumiu a presidência, em 1956, envolvido pela euforia gerada pelo pós-guerra, trouxe com ele um projeto desenvolvimentista que finalmente transformaria o Brasil, um país agrário e atrasado, em uma nação moderna, industrializada e urbana, capaz de concorrer com as superpotências no cenário mundial. Para isso criou seu Plano de Metas, marcado principalmente pela inauguração da primeira fábrica da Volkswagen no Brasil, pela abertura do mercado ao capital estrangeiro e pela construção de Brasília, que simbolizava o ideal de desenvolvimento urbano que deveria ser seguido por todo país.

Em decorrência da industrialização que se seguiu, o processo de urbanização de várias cidades brasileiras, que já estava em andamento no início dos anos 40, intensificou-se na década seguinte. Como conseqüência fez surgir também no Brasil uma camada de classe média que ganhou papel de destaque cada vez maior na economia, na política e na cultura. Essa classe média estabeleceu novos padrões de consumo, um diferente estilo de vida e um gosto cultural específico, influenciada pelos valores norte-americanos que eram divulgados no país.

Essa época de profundas transformações econômicas e sociais, aliada à prosperidade e liberdade política, fez surgir uma atmosfera de otimismo nunca antes sentida no país, o que valeu ao período o título de “anos dourados”, uma era em que tudo exalava inovação. Este ar de modernidade, de transformação, ultrapassou o campo político e econômico e influenciou também a cultura e fez surgir movimentos de renovação em várias formas de manifestação artística, como na literatura, no teatro, no cinema e na música. E a novidade, no campo da cultura, foi marcada pela busca de uma nova identidade nacional em oposição à tradição, capaz de projetar a imagem deste novo país moderno e do brasileiro que o construía. A bossa nova foi um dos principais resultados desse esforço.



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